Financiamento de Veículo: Por Que a Devolução Amigável Nem Sempre é a Melhor Opção

advogado imobiliário foz do Iguaçu

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Saiba por que a devolução amigável de um veículo financiado pode ser uma cilada. Entenda os riscos do leilão, seus direitos e como evitar prejuízos financeiros.

Se você financiou um veículo e está enfrentando dificuldades para pagar as parcelas, a devolução amigável pode parecer uma solução rápida e menos complicada. Contudo, essa decisão, tomada sem uma análise cuidadosa, pode trazer prejuízos financeiros ainda maiores para o consumidor. Neste artigo, vamos explicar os riscos da devolução amigável, o impacto do leilão do veículo e os direitos que muitas vezes passam despercebidos pelos consumidores.

I. O Que é a Devolução Amigável de Veículo?

A devolução amigável acontece quando o consumidor, por não conseguir quitar as parcelas do financiamento, entrega o veículo ao banco em um acordo extrajudicial. Embora pareça uma saída menos problemática, essa decisão pode gerar consequências financeiras graves, especialmente porque o veículo será vendido em leilão público, e o valor obtido raramente cobre todos os custos envolvidos no contrato.

II. O Funcionamento do Leilão e Seus Impactos

Após a devolução amigável, o banco é obrigado por lei a leiloar o veículo. O problema começa na avaliação e no preço de venda:

  • O veículo pode ser vendido por até 60% do valor de mercado.
  • Por exemplo, um carro avaliado em R$ 30.000 pode ser arrematado no leilão por apenas R$ 18.000.

Esse valor arrecadado no leilão será utilizado para:

  1. Quitar o saldo devedor do financiamento.
  2. Cobrir custos processuais.
  3. Pagar a comissão do leiloeiro e outras despesas relacionadas.

E o que acontece se o valor do leilão não for suficiente para quitar a dívida?

  • A dívida remanescente permanece: o banco continuará cobrando o consumidor pelo saldo devedor.
  • O nome do consumidor pode ser negativado, e ele ainda corre o risco de enfrentar uma ação judicial e sujeito à penhora de outros bens.

Por outro lado, se o veículo for vendido por um valor superior ao saldo devedor, o consumidor tem direito de receber a diferença. Contudo, esse direito não é automático: será necessário manejar uma ação judicial de exigir contas para garantir a restituição. Na maioria dos casos que presenciamos o banco “não ligou” para o devedor para lhe restituir esse saldo.

III. Perda das Parcelas Pagas e Outros Prejuízos

Muitos consumidores entregam o veículo sem saber que, mesmo após pagar boa parte do financiamento, ainda podem sair no prejuízo.

  • Imagine alguém que já pagou metade das parcelas do financiamento: o valor já pago não será devolvido, e o saldo devedor ainda pode continuar após o leilão.
  • Resultado: o consumidor perde o valor da entrada, todas as parcelas quitadas e ainda pode ficar com uma dívida remanescente.

Essa situação é agravada pelo fato de que as equipes de cobrança dos bancos frequentemente pressionam os consumidores a entregar o veículo amigavelmente, prometendo que essa decisão “resolverá o problema”. No entanto, o que muitas vezes ocorre é o contrário:

  • Após o leilão, o valor arrecadado não cobre a dívida, e o consumidor se vê surpreendido por ligações incessantes, cobranças abusivas e até ações judiciais.

IV. Direitos do Consumidor no Leilão

O consumidor tem direitos importantes que não podem ser ignorados. Veja os principais:

  1. Direito à Restituição do Valor Excedente
    • Se o valor obtido no leilão for superior ao saldo devedor, o consumidor tem direito de receber essa diferença.
    • Para garantir esse direito, é necessário ingressar com uma ação judicial de exigir contas contra o banco. (quase sempre)
  2. Direito de Saber os Detalhes do Leilão
    • O banco deve informar ao consumidor o resultado do leilão, incluindo o valor de venda do veículo e como ele foi utilizado para quitar a dívida.
  3. Direito à Transparência no Contrato
    • Taxas e encargos devem estar claramente previstos no contrato de financiamento. Caso contrário, pode ser possível questionar cobranças indevidas por meio de uma análise jurídica.

V. Por Que a Devolução Amigável Deve Ser a Última Opção?

A devolução amigável do veículo pode parecer uma solução simples, mas, como vimos, os riscos envolvidos são altos. Sem orientação especializada, o consumidor pode:

  • Perder o valor da entrada e todas as parcelas pagas.
  • Continuar endividado mesmo após a entrega do veículo.
  • Ficar sujeito a ações judiciais e à penhora de outros bens.

Além disso, é comum que o consumidor desconheça seus direitos, como o direito de exigir a restituição do valor excedente do leilão ou de questionar cláusulas abusivas no contrato.

VI. O Que Fazer Antes de Tomar uma Decisão?

Se você está enfrentando dificuldades para pagar o financiamento do seu veículo, é importante agir com cautela. Antes de entregar o veículo ao banco, considere as seguintes ações:

  1. Avalie as Condições do Contrato
    • Verifique se as taxas de juros, encargos e cláusulas contratuais estão de acordo com as normas legais.
  2. Negocie com Cautela
    • Não aceite propostas de renegociação sem entender os impactos financeiros. Muitas vezes, a renegociação pode aumentar o prazo e dobrar a dívida.
  3. Procure Ajuda Especializada
    • Um profissional com experiência em financiamento de veículos e direito bancário pode avaliar sua situação e ajudá-lo a encontrar a melhor solução, seja por meio de uma renegociação justa ou de ações judiciais para corrigir abusos.

VII. Conclusão: Conhecimento é Proteção

A devolução amigável de um veículo financiado pode trazer consequências financeiras graves e duradouras. Antes de tomar qualquer decisão, é essencial conhecer os riscos e entender seus direitos como consumidor.

Lembre-se: os bancos estão preparados para proteger seus interesses, e você deve estar igualmente preparado para proteger o seu. Contar com apoio especializado pode fazer toda a diferença para evitar prejuízos e retomar sua tranquilidade financeira.

Nunca tome decisões precipitadas. Avalie, planeje e proteja-se.

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